O PLANEJAMENTO E O PLANO ESCOLAR: A PARTICIPAÇÃO NECESSÁRIA - Prof. Pedro Ganzeli


Nos últimos anos, a educação brasileira vem sofrendo significativas mudanças, que estão a exigir de todos os agentes educacionais, que vivenciam o dia-a-dia da escola, uma nova conduta em razão da nova visão do processo educativo. 

A escola não poderia ficar alheia a esse fenômeno que é moderno e necessário a toda política que se pretende democrática. 

Planejar é um processo necessário no caminhar para a democratização do ensino na escola. O plano escolar estabelece, então, a marcha para essa caminhada, bem como as paradas para refletir sobre o acerto ou desacerto da marcha, tendo em vista avaliá-la cotidianamente. 

O planejamento educacional é informado pela concepção que cada governo expressa a respeito das funções do Estado, quando ao desenvolvimento nacional. 

Buscando colaborar no processo de pensar e fazer a escola pública, este artigo apresentará, de forma sucinta, três aspectos básicos do planejamento educacional: sua história, seu conceito e o método que prioriza a participação de todos na resolução dos problemas da escola. 

UM POUCO DE HISTÓRIA 

O planejamento educacional é informado pela concepção que cada governo expressa a respeito das funções do Estado quanto ao desenvolvimento nacional. Assim, apresentaremos um breve histórico sobre planejamento governamental no Brasil, destacando a visão que diferentes planos de desenvolvimento propiciaram à área educacional. 

No período pós-guerra, divulgou-se, nos países considerados subdesenvolvidos, o Modelo Desenvolvimentista, teoria defendida pela Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), a qual propunha a centralidade do Estado no processo de orientação do desenvolvimento da economia nacional. 

As preocupações básicas do modelo desenvolvimentista giravam em torno da criação da infra-estrutura necessária para a instalação de indústrias no país, substituição de importação e criação de um mercado consumidor de massa nacional. Buscava-se, dessa forma, criar um desenvolvimento auto-sustentado para o país. Sua concretização dar-se-ia pela associação do capital nacional ao internacional. 

Tomando o Plano de Metas do presidente Jucelino Kubitschek como a "efetiva inauguração" do planejamento governamental no Brasil, verificamos que o setor da educação, inicialmente não previsto, foi incluído no Plano, quando da constatação de que as novas empresas precisariam de mão-de-obra qualificada. Podemos dimensionar o valor dado pelo Plano de Metas à educação, observando a alocação dos investimentos previstos para os cinco setores básicos: energia 43,8%; transporte 29,6%; industria de base 20,4; educação 3,4% e alimentação 3,2%". 

A ditadura militar, que se instalou no governo do país em 1964, assimila esse modelo, lançando mão de vários Planos Nacionais de Desenvolvimento, ganhando o setor educacional um maior destaque. Tendo como base a Teoria do Capital Humano, defendia-se a educação como um investimento e não mais como um gasto, pois, com a qualificação proporcionada por anos de escolaridade, o trabalhador teria melhores condições de progredir na carreira, alcançando as funções mais rentáveis; o empresário teria a sua disposição um trabalhador mais produtivo, ampliando a quantidade e qualidade de seus produtos e, finalmente, ganharia o governo, ao garantir uma sociedade mais adequada ao mundo moderno. O Estado, nesse período, promoveu a educação de alto nível, priorizando o Ensino Universitário e Tecnológico, procurando atender o setor industrial e agrícola, bem como instituiu o ensino profissionalizante no nível de 1° grau (LEI 5692/71) 

Na década de 80, ao mesmo tempo em que o país enfrentava uma grave crise econômica, a qual diminuiu a capacidade de investimento por parte do Estado, ampliavam-se, com a redemocratiização política, as demandas populares por educação e outros. 

Sendo, então, centralizado, o planejamento passa a ser elaborado por tecnocratas em seus gabinetes, prevalecendo as necessidades econômicas na definição dos objetivos da educação nacional. Nesse caso, "essa abordagem economicista dos problemas da população corresponde a uma visão de homem funcionalista e instrumentalizadora, na qual todas as medidas escolhidas se voltam para o crescimento econômico e em que tudo se justifica em função dos ‘objetivos nacionais’". 

Na década de 80, ao mesmo tempo em que o país enfrentava uma grave crise econômica, a qual diminuiu a capacidade de investimento por parte do Estado, ampliavam-se, com a redemocratização política, as demandas populares por direitos como educação, saúde, transporte, moradia, além de outros. A Constituição de 1988 acabou por garantir, depois de muita luta, parte dessas reivindicações populares. Nesse período, podemos verificar nos Planos de Governo a incorporação de uma nova visão de educação para a formação do cidadão crítico e não mais uma formação somente para a qualificação para o trabalho. 

A onda neoliberal chega ao Brasil nos anos 90. Com a globalização da economia, as elites internacionais e nacionais passam a defender a redução das funções do Estado. O Banco Mundial reforça seus investimentos em políticas de descentralização e desconcentração administrativas nos países em desenvolvimento. A descentralização passa a ser entendida por essa instituição internacional e seus teóricos, como sinônimo de privatização e ampliação do mercado mundial. O novo paradigma de desenvolvimento defende que os países, como o Brasil, reformulem suas estruturas econômicas, sociais e políticas para se adaptarem às novas exigências do mercado internacional. 

Segundo um documento elaborado pela Cepal/Orealc, "Educação e Conhecimento: eixo da transformação produtiva com equidade", o qual serviu de base para as reformas educacionais na América Latina, o Estado deveria redefinir o seu papel nas políticas na área da educação, devendo dirigir-se "à gestão institucional responsável (descentralização); à profissionalização e ao protagonismo dos educadores (revisão da inserção, da formação e do modo de atuar dos docentes); ao compromisso financeiro da sociedade com a educação (contribuição dos pais e da comunidade local); à capacidade e esforço científico e cooperação regional e internacional"3 . 

Essas idéias estão presentes no Plano Decenal de Educação para Todos, produzido em 1993, cujo primeiro objetivo é "satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem das crianças, jovens e adultos, promovendo-lhes as competências fundamentais requeridas para plena participação na vida econômica, social, política e cultural do país, especialmente as necessidades do mundo do trabalho (grifo nosso)4 . Como podemos observar, reforça-se a necessidade da formação para o mundo do trabalho e incorporam-se, então, novas exigências ao trabalhador, isto é, que ele seja "flexível", de forma a corresponder aos novos padrões de produção. 

Insiste-se no velho argumento de que, com a melhoria da qualidade do trabalhador, alcançaríamos o sonhado desenvolvimento econômico e automaticamente se democratizariam as relações sociais na nação. 

Entre 1960 e 1970, os dez por cento mais ricos da população brasileira aumentaram a sua participação na renda nacional em 7%, passando de 40% para 47%, ao passo que os cinqüenta por cento mais pobres diminuíram a sua participação em dois pontos percentuais, de 17% para 15%5 . 

Formar o trabalhador não basta, é preciso que todo cidadão valha-se de sua consciência na visão dos verdadeiros interesses ocultos, por exemplo, por detrás das privatizações e terceirizações, que se espalham hoje pelo país. 

Essa tendência acentuou-se nos anos 80, quando os dez por cento mais ricos da população, que detinham 46,6% da renda nacional em 1981, ampliaram a sua participação para 53,2% no ano de 1989, ao passo que os dez por cento mais pobres, que detinham 0,95 da renda nacional em 1981, diminuíram a sua participação, alcançando 0,6% em 19896 . 

Nos anos 90, essa tendência de queda da participação da população mais pobre na renda nacional manteve-se praticamente inalterada. Os cinqüenta por cento mais pobres tiveram a seguinte participação na renda nacional: 1991, 13,6%; 1993, 12,3%; 1994, 11,3%; 1995, 12,2%7 . 

Como podemos constatar, apesar de todo o desenvolvimento econômico e todo "progresso" alcançado, as elites nacionais (e internacionais) ampliaram cada vez mais os seus lucros, ao passo que a maioria da população permaneceu com uma participação restrita na renda nacional, o que dificultou a democratização social e econômica do país8 . 

Essas observações vêm a baila, pois, se estamos preocupados em pensar sobre o planejamento numa perspectiva democrática, temos que definir qual a função prioritária da escola na sociedade brasileira nos dias atuais. Nesse sentido, cobrar da escola a formação do trabalhador capaz de exercer uma profissão com dignidade é insuficiente, pois em um país desigual como o nosso, a escola deve ir além da formação para o trabalho, priorizando a formação do cidadão, o que requer prepará-lo em toda sua humanidade. Vale dizer, preparar o cidadão consciente, atuante e crítico. 

Entre 1.960 e 1.970, os dez por cento mais ricos da população brasileira aumentaram a sua participação na renda nacional em 7%, passando de 40% para 47%, ao passo que os cinqüenta por cento mais pobres diminuíram a sua participação em dois pontos percentuais, de 17% para 15%. 

Nesse sentido, é preciso ficarmos atentos às duas propostas do Plano Nacional de Educação (PNE), em debate na Câmara Federal, uma encaminhada pelo MEC, que propõe elevar "na década, por meio do esforço conjunto da União, dos Estados e dos Municípios, do setor privado, do percentual de PIB aplicado em educação para atingir o mínimo de 6,5%", seguindo a concepção de educação defendida pelo Banco Mundial, e a proposta das Oposições, mediante a qual deve-se "aumentar em dez anos os gastos públicos com a educação até cerca de 10% do PIB para o pleno atendimento das propostas contidas neste Plano Nacional de Educação"9 . Busca-se aqui recuperar o sistema público de ensino, insistindo na responsabilidade do Estado pela manutenção do ensino público de qualidade, por intermédio de uma outra forma de ver e fazer a política educacional. 

Formar o trabalhador não basta, é preciso que todo cidadão valha-se de sua consciência na visão dos verdadeiros interesses ocultos, por exemplo, por detrás das privatizações e terceirizações, que se espalham hoje pelo país. 

Se a função da escola não é meramente profissionalizante, o planejamento deve ser necessariamente participativo, tendo em vista a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática. 

PLANEJAMENTO: PROCESSO DE TRABALHO COLETIVO 

O planejamento para a educação em uma escola pública marca-se por influências "externas" e "internas" a seus muros. 

Torna-se, hoje, cada vez mais difícil entendermos o que se passa na escola, se desconhecemos as políticas internacionais voltadas à educação, em especial as teorias ditadas por organismos internacionais de financiamento, como o Banco Mundial, e sua política de privatizações10 . 

As novas legislações como a Emenda 14, a nova LDB, entre outras, também devem ser consideradas para a compreensão da realidade escolar, pois estas legislações "determinam" a forma de organizar e de fazer a educação em nosso país. 

As políticas implementadas pelos diferentes níveis de governo também devem ser consideradas uma importante fonte de influência no planejamento, pois, ao instituir e propor o programa TV Escola e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a esfera federal fez-se presente praticamente em todas as unidades escolares da nação. No âmbito estadual, o programa de Reorganização da Escolas afetou a educação do Estado de São Paulo, influenciando, ainda a organização do sistema municipal de ensino, particularmente, no que se refere à distribuição de alunos. Na esfera municipal, a influência advém das várias formas de entender e implementar a municipalização do ensino fundamental instituída com o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério. Enfim, é preciso deixar claro que a escola é influenciada por diferentes fatores além-muros, sendo de fundamental importância a compreensão do significado desses fatores para o dia-a-dia da escola. 

A autonomia é também um conceito que exprime um certo grau de relatividade: somos, mais ou menos, autônomos; podemos ser autônomos em relação a umas coisas e não o ser em relação a outras. 

Além dessas influências "externas", a escola é também influenciada por fatores advindos de sua "realidade particular", exigindo que os agentes sociais presentes em seu cotidiano façam uma análise desse mesmo cotidiano. Pensando que "cada caso é um caso", temos que ter clareza da necessidade de conhecermos o que realmente está se passando em nossa unidade escolar. 

Vejamos se, mediante um exemplo, essa idéia fica mais clara. Suponhamos três escolas: A, B e C. Apesar de a violência ser comum às três escolas, cada uma delas poderá sofrer o mesmo problema de forma distinta, ou seja, na escola "A", a violência é causada especialmente por gangues de rua, que buscam refúgio na escola, na escola "B", a violência é decorrente de brigas geradas por alunos de diferentes bairros que disputam poder no espaço escolar, na escola "C", o clima agressivo entre os diferentes segmentos da escola é gerado pela forma autoritária, pela qual a direção está conduzindo a escola. 

Cândido (1987) nos alerta que, os "elementos que integram a vida escolar são, em parte, transpostos de fora; em parte, redefinidos na passagem, para ajustar-se às condições grupais; em parte, desenvolvidos internamente e devidos a estas condições. Longe de serem um reflexo da vida da comunidade, as escolas têm uma atividade criadora própria, que faz de cada uma delas um grupo diferente dos demais"(grifo do autor) . 

Estamos entendendo autonomia escolar como um sistema de relações, conforme nos explica Barroso (1998): "A autonomia é um conceito relacional (somos sempre autônomos de alguém ou de alguma coisa) pelo que a sua acção se exerce sempre num contexto de interdependências e num sistema de relações. A autonomia é, também um conceito que exprime um certo grau de relatividade: somos, mais ou menos, autônomos; podemos ser autônomos em relação a umas coisas e não o ser em relação a outras. A autonomia é, por isso, uma maneira de gerir, orientar, as diversas dependências em que os indivíduos e os grupos se encontram no seu meio biológico ou social, de acordo com as suas próprias leis". 

O conhecimento da realidade escolar passa a ser uma exigência no processo de planejamento. Para Ferreira (1979), mais do que conhecer um método de planejamento, aquele que planeja, deve possuir um bom conhecimento da realidade a ser planejada13 . 

A participação, a nosso ver, é o melhor caminho para conhecer a realidade escolar, pois a escola analisada pelo pai não corresponde necessariamente à escola vista pelo professor, bem como pode não refletir as análises dos outros membros presentes no dia-a-dia da escola, funcionários, alunos e especialistas. Por meio da participação e do debate democrático, somente, será possível o encontro de pontos comuns aos vários segmentos, das várias "realidades" presentes na escola, que deverão ser contemplados no processo de planejamento escolar. 

A participação possibilita a incorporação dos vários significados que a escola possui por parte dos diferentes segmentos que vivenciam a realidade escolar. A escola deixa de ser do governo, do diretor, do funcionário, do professor, do pai, do aluno e passa a carregar simbolicamente um pouco de todos. A participação deve ser entendida como um processo de aprendizagem que demanda um tempo e um esforço de todos aqueles preocupados com a formação do cidadão. Nesse sentido, é preciso pensar em uma forma de planejar a escola de modo que se possibilite a participação de todos nas decisões sobre os seus rumos. 

Estamos entendendo o planejamento como um processo de organização do trabalho escolar. Podemos visualizar três momentos no processo de planejamento – ANTES – DURANTE – DEPOIS das operações, ou seja, a preparação das operações a serem desenvolvidas; o acompanhamento da execução das operações, e a avaliação de todo o processo após a execução de todas as operações. 

O primeiro é o momento de elaboração do Plano Escolar, ou seja, quando analisamos participativamente a realidade a ser planejada, levantando as suas principais necessidades (diagnóstico) e dessas passamos a decidir sobre os objetivos que desejamos alcançar (objetivos), como também sobre os caminhos que vamos seguir para alcançar esses objetivos (programação) e o que vamos precisar para seguir nesse caminhar (recursos). Ainda, nesse momento, teremos de decidir sobre o momento e a forma de avaliação do planejamento (avaliação). Todas as decisões coletivamente tomadas, no primeiro momento, devem ser registradas no documento que chamamos de Plano Escolar. 

O ideal é a seleção de problemas que envolvam toda a escola. Vale lembrar que o problema selecionado seja expresso de forma clara e objetiva, facilitando o entendimento de toda a comunidade escolar, até mesmo daquelas pessoas que não participaram das discussões. 

O segundo momento do planejamento caracteriza-se pelo acompanhamento da execução das operações. Acompanhar significa interagir com a realidade, ou seja, estar atento para mudar os rumos das operações, caso elas não satisfaçam os objetivos do planejamento, pois a dinâmica escolar pode se alterar exigindo certas modificações nas operações inicialmente pensadas. Devemos estar sempre atentos às necessidade de mudança do percurso, se realmente estamos interessados em alcançar determinados objetivos. 

O terceiro momento do processo de planejamento corresponde à avaliação de todo o caminhar, ou seja, quando verificamos quais as operações que levaram a alcançar os objetivos propostos e aquelas que, mesmo executadas, não tiveram o efeito desejado para o alcance dos objetivos inicialmente propostos. Nesse momento, ao analisarmos os acertos e erros, estaremos preparando um novo planejamento, pois, como processo, esse planejamento carateriza-se por um contínuo planejar, acompanhar, avaliar, replanejar, etc... (Ferreira,1979). 

Todo processo de planejamento tem por objetivo alterar uma dada realidade, ou seja, espera-se com a implementação do planejamento que ocorram mudanças políticas, pedagógicas e administrativas na realidade escolar. Apesar de parecer "óbvia" esta afirmativa torna-se necessária, pois ainda está muito presente entre os agentes educacionais a visão de que o planejamento e, principalmente, o plano escolar, não passam de mera formalidade legal. Essa visão acaba por impedir ações que garantam a organização do trabalho coletivo na escola e, consequentemente, a democratização das relações na unidade escolar. Nesse sentido, de nada adianta darmos novos nomes e formas ao plano se este será elaborado dentro de uma concepção fechada de planejamento. Muda-se a forma, introduzem-se novos e sofisticados conteúdos, mas o seu significado permanece o mesmo, um documento legal sem influência no cotidiano escolar. 

Com a preocupação de garantir a "operacionalização" do planejamento participativo, apresentaremos a seguir um método de elaboração do Plano Escolar, baseado no Método Altadir de Planificação Popular14 , que tem na participação e na resolução de problemas suas principais características. 

A PRODUÇÃO DE UM PLANO ESCOLAR 

As orientações a seguir possuem a finalidade de viabilizar a produção de um Plano Participativo, por meio da resolução de problemas levantados e explicados por todos os segmentos que vivenciam o dia-a-dia da escola. Mais que a apresentação de um método de planejamento, este roteiro tem a intenção de refletir sobre uma das inúmeras formas de possibilitar a participação planejada de todos os segmentos na unidade escolar, sendo aceitável, desta forma, modificações em sua estrutura de modo a facilitar sua aplicabilidade. É de fundamental importância que o plano seja compreensível para toda a comunidade escolar (pais, alunos, professores, funcionários e especialistas do ensino), portanto sua linguagem deve ser clara e objetiva. 

Para melhor transparência e divulgação das ações a serem realizadas pelos agentes escolares, pensamos na produção de um Painel, que descreva de forma clara todo o processo de planejamento em detalhes, ou seja, o PROBLEMA, seus INDICADORES, suas CAUSAS, as OPERAÇÕES, os RECURSOS necessários, o PRAZO DE EXECUÇÃO, os RESULTADOS esperados de cada operação, a AVALIAÇÃO da operação e, finalmente, a REVISÃO GERAL delas. Para facilitar a montagem desse painel, foram elaboradas fichas correspondentes a cada parte do plano, conforme explicaremos a seguir. 

O primeiro passo para a elaboração de um planejamento participativo é fazer que os problemas a serem tratados pelo Plano partam do seio da comunidade escolar. Assim, é necessário que cada segmento da escola, representada por pais, professores, funcionários, alunos e especialistas, selecione um problema que, segundo sua opinião, está afetando a escola. (Exemplo: pais = falta de segurança, professores = falta de interdisciplinaridade, alunos = falta de quadra para a prática de esportes, funcionário = falta de respeito por parte dos professores, direção = indisciplina dos alunos, superlotação das classes, falta de professores, etc.). Após o levantamento dos problemas apontados por todos os segmentos, torna-se necessário hierarquizá-los, priorizando aqueles mais votados por toda a comunidade escolar ou mesmo discutidos em reuniões do Conselho de Escola. Os problemas devem tratar de temas dentro dos limites da escola, pois existem alguns externos, os quais, apesar de afetarem diretamente a escola, são de difícil acesso para a comunidade escolar. O ideal é a seleção de problemas que envolvam toda a escola. Vale lembrar que o problema selecionado seja expresso de forma clara e objetiva, facilitando o entendimento de toda a comunidade escolar, até mesmo daquelas pessoas que não participaram das discussões. Um plano escrito de forma clara torna-se um instrumento pedagógico para a comunidade escolar, pois explica à mesma os problemas presentes na instituição e as soluções propostas para a sua resolução, o que garante a colaboração de todos na execução do mesmo. 

A) PROBLEMA - Pense num problema que interfira negativamente na escola. É comum, nessa parte da discussão uma certa dificuldade na definição do problema, pois, em certos casos, não é muito clara a distinção do problema e suas causas, ou mesmo conseqüências, o que exige um tempo maior de discussão. 

Ficha 1 

Problema: Indisciplina do aluno 

B) INDICADORES - Quais os dados quantitativos ou qualitativos que demonstram a existência do problema na escola? 

Ficha 2 

Indicadores: 

I1 - Alto índice de alunos suspensos no 1º bimestre
I2 - Brigas constantes nos corredores e pátio da escola
I3 - ... 

C) CAUSAS - Quais as causas do problema? Descreva, de forma clara e objetiva, as principais causas do problema selecionado, identificando-as com uma sigla para facilitar a sua identificação ex: C1; C2...: 

Ficha 3 

Causas: 

C1 – Presença de turmas de alunos de bairros diferentes, gerando disputas pelo espaço escolar.
C2 – Falta de professores gerando períodos livres aos alunos.
C3 – Ausência de funcionários de apoio, dificultando a organização dos alunos nos períodos de recreio, entrada e saída de alunos
C4 – Baixa estima do aluno em relação à escola e a seus colegas 

D) OPERAÇÕES – Para cada causa elabore uma ou mais operações que enfrente o problema apontado. Nestas operações devem ser apontados: 

- QUEM - professor João; funcionária Maria; uma comissão formada por um pai (Lourdes), um funcionário (Paulo) e uma aluna da 7º serie (Raquel) - responsabilizar-se-ão pela realização/ coordenação da operação;
- O QUE será feito para eliminar a causa apontada anteriormente; esta é a ação propriamente dita;
- RECURSOS - explicitar os recursos físicos, humanos e financeiros necessários para a concretização das operações;
- PRAZO DE EXECUÇÃO - tempo necessário para a organização e execução da ação proposta;
- Explicite quais os RESULTADOS que esperam ser alcançados com a ação proposta;
- Descreva o processo de AVALIAÇÃO de cada ação, ou seja, QUEM vai avaliar (o diretor, a comissão formada..., etc.), COMO vai avaliar, quais os instrumentos utilizados para a avaliação (questionários, relatórios e outros) e QUANDO será realizada a avaliação (logo após a ação executada, após duas semanas da ação executada, etc.). 

Seguindo estas orientações, podemos preencher as fichas de forma a possibilitar melhor visualização de cada passo do processo de planejamento. 

A seguir, mostraremos 3 modelos de fichas para Operação: 

Ficha 4 A – Para uma causa, três operações: 

C 1: Rivalidade entre alunos de bairros diferentes 

OPERAÇÃO 1: (QUEM) Uma comissão formada pela vice-diretora, dois professores (José e Ruth) e um pai de aluno (Sr. Carlos), (O QUE) organizarão a apresentação de um filme que trate do tema, seguido de debate entre alunos e professores; (Grupos de 90 alunos por apresentação). 

RECURSOS: Físicos = Refeitório; Telão; Equipamento de Som / Humanos = Professores das classes correspondentes, coordenadora pedagógica, três pais representantes da APM, um funcionário da limpeza/ Financeiros = O aluguel do telão será pago com verbas da APM. 

PRAZO DE EXECUÇÃO da Operação = no primeiro mês de aula. 

RESULTADOS ESPERADOS = Conscientização dos alunos sobre os prejuízos decorrentes das brigas na escola. 

AVALIAÇÃO = (QUEM) A vice-diretora, auxiliada pelos professores, aplicará (COMO) um questionário aos alunos para saber a sua opinião sobre a atividade, bem como as suas sugestões, (QUANDO) uma semana após a realização da mesma. 

OPERAÇÃO 2: (QUEM) Uma comissão formada pela coordenadora pedagógica, dois professores (Raquel e Paulo), uma mãe de aluno (Sra. Ana) e três alunos do Grêmio Estudantil (Marcos, Luiz e Lourdes), (O QUÊ) organizarão um campeonato de futebol de salão e outro de vôlei, com a colaboração dos professores de Educação Física. 

RECURSOS: Físicos = Quadra poliesportiva ; sala de Reuniões; Computador (Elaboração das tabelas de jogos e divulgação dos resultados)/ Humanos = Professores de Educação Física; três pais de alunos; três representantes dos alunos; um funcionário; vice-diretora/ Financeiros = Para compra das medalhas e troféus, serão captados recursos na iniciativa privada (comerciantes do bairro). Caso estes recursos não sejam suficientes, a APM se comprometerá com os gastos com o campeonato. 

PRAZO DE EXECUÇÃO da ação = no segundo e terceiro mês de aula 

RESULTADOS ESPERADOS = Aproximação dos alunos, bem como dinamização das relações entre eles por meio da prática de esportes 

AVALIAÇÃO = (QUEM) Uma comissão formada pela coordenadora pedagógica, dois professores, dois pais, dois alunos, farão (COMO) uma pesquisa, por meio de questionário padronizado endereçado aos vários segmentos da escola, para saber a opinião de todos sobre a influência dos eventos esportivos no comportamento do aluno na escola, (QUANDO) uma semana após o encerramento do mesmo. 

OPERAÇÃO 3: (QUEM) A coordenadora pedagógica (O QUÊ) organizará uma palestra sobre agressividade, com um especialista convidado (psicólogo, antropólogo, sociólogo, entre outros profissionais) aberta a toda a comunidade escolar. 

RECURSOS: Físicos = Refeitório (manhã, tarde, noite); aparelho de som, retroprojetor, mesa, cadeira./ Humanos = O coordenador pedagógico e o palestrante/ Financeiros = A comissão tentará obter da diretoria de ensino verbas para o pagamento das despesas do evento (pagamento e transporte do palestrante). Caso falhe esta tentativa, a comissão tentará obter da prefeitura, Sociedade Amigos de Bairro, entre outras instituições sociais, as verbas necessárias para a realização do evento, e a APM deverá ser acionada, uma vez esgotadas as outras alternativas de pagamento. 

PRAZO DE EXECUÇÃO da ação = no segundo mês de aula 

RESULTADOS ESPERADOS = Ampliar a visão da comunidade sobre as conseqüências indesejáveis da agressividade para a escola e para o aluno. 

AVALIAÇÃO = (QUEM) A comissão (COMO) elaborará um relatório sobre o evento, com o número de participantes e as principais questões levantadas (QUANDO) durante a palestra, bem como novas sugestões surgidas durante o evento, o que deverá ser apresentado no Conselho de Escola, no final do semestre. 

Ficha 4 B – Para uma causa, duas operações 

C2 – Falta de professores gerando períodos livres aos alunos 

OPERAÇÃO 4: O diretor junto com o Conselho de Escola enviará um pedido à D.E. no sentido de agilizar a substituição de professores na escola 

RECURSOS: Físicos/ Humanos/ Financeiros = Serão providenciados pela direção da escola. 

PRAZO DE EXECUÇÃO da ação = no primeiro mês de aula 

RESULTADOS ESPERADOS = Diminuir o número de aulas vagas 

AVALIAÇÃO = O diretor informará o Conselho de Escola sobre o andamento do pedido, nas reuniões ordinárias e extraordinárias, caso estes ocorram. 

OPERAÇÃO 5: O coordenador pedagógico organizará, com a colaboração dos professores, uma coletânea de fitas de vídeos com assuntos temáticos, para serem exibidas na ausência dos professores. 

RECURSOS: Físicos = Televisão e vídeo cassete/ Humanos = Coordenador pedagógico/ Financeiros = Aluguéis de fita serão pagos com verba da Caixa Escolar. 

PRAZO DE EXECUÇÃO da ação = no primeiro mês de aula 

RESULTADOS ESPERADOS = Aumentar a permanência do aluno em sala de aula 

AVALIAÇÃO = Uma comissão formada pelo Coordenador Pedagógico, um professor, um pai e um aluno farão um relatório para o Conselho de Escola, a ser apresentado no final do semestre, mostrando a influência dessa atividade na redução de alunos nos pátios e corredores da escola, entre outros efeitos. 

Ficha 4 C – uma causa, uma operação 

C3 – Ausência de funcionários de apoio 

OPERAÇÃO 6: O diretor junto com o Conselho de Escola, enviará ofício à Prefeitura Municipal solicitando a contratação de funcionários. 

RECURSOS: Físicos/ Humanos / Financeiros = Serão providenciados pela direção da escola. 

PRAZO DE EXECUÇÃO da ação = no primeiro mês de aula 

RESULTADOS ESPERADOS = controlar melhor a entrada e a saída de alunos 

AVALIAÇÃO: O diretor informará o Conselho de Escola sobre o andamento do pedido nas reuniões ordinárias e extraordinárias, caso estes ocorram. 

Ficha 4 D – uma causa, uma operação 

C4 – Baixa estima do aluno 

OPERAÇÃO 7: Uma comissão formada por dois professores, dois pais e dois alunos organizará uma campanha de valorização do aluno na escola por meio da organização de um campeonato de xadrez, dama e pingue-pongue. 

RECURSOS: Físicos = Sala de Competição; Tabuleiros; mesa de pingue- pongue; refeitório/ Humanos = A comissão fará o levantamento do número de juizes e fiscais de mesas, necessários para as competições/ Financeiros = A comissão organizadora do evento encaminhará às indústrias da região pedidos para o fornecimento das medalhas e troféus para a premiação dos participantes. A APM deverá ser acionada, uma vez esgotadas as outras alternativas de pagamento. ( o trabalho desta comissão deverá ser feito de forma integrada com o da comissão que organiza o campeonato de futebol de salão e vôlei). 

PRAZO DE EXECUÇÃO da ação = no segundo e terceiro meses de aula. 

RESULTADOS ESPERADOS = ampliar a integração entre os alunos. 

AVALIAÇÃO = A comissão fará uma pesquisa com os professores e alunos, por meio de um questionário-padrão, para saber sua opinião sobre a influência do referido evento sobre o comportamento do aluno, o que ocorrerá após o evento. 

OPERAÇÃO 8: Uma comissão formada por dois professores, dois pais e dois alunos organizará a fanfarra da escola. 

RECURSOS: Físicos = Locais apropriados para o ensaio e guarda dos instrumentos/ Humanos = Maestro, dois professores, dois pais de alunos/ Financeiros: A compra dos instrumentos poderá ter a colaboração de empresas próximas da escola; por meio da realização de uma festa da primavera, organizada pela escola; por meio de pedidos feitos às Secretarias de Cultura (estado e município). 

PRAZO DE EXECUÇÃO da ação = no primeiro semestre de aulas 

RESULTADOS ESPERADOS = ampliar a integração entre o aluno e a escola 

AVALIAÇÃO = A comissão fará um relato avaliativo para o Conselho de Escola, no final do semestre. 

E) REVISÃO GERAL - É indispensável um período para que cada responsável faça um relato avaliando os resultados alcançados com as operações. É importante lembrar que existirão durante a execução destas operações, várias interações entre elas, sendo de grande importância uma análise conjunta de todas, a isso estamos chamando de revisão geral, a qual poderá ser feita por meio de uma reunião aberta do Conselho de Escola, no final do semestre. Desta revisão geral poderão sair os pontos norteadores do próximo plano escolar. 

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